Andrea Wanger
Respeitar os saberes, o mundo e sua pluralidade, o tempo, as necessidades da vida de cada um, é a tarefa mais grandiosa do educador. Tratamos de educação quando visamos atingir o ser humano, seu papel no mundo e na sociedade, seu bem estar físico e emocional, sua autoconfiança e sua sensibilidade.
Abordando o teatro no processo da formação de indivíduos, falamos do respeito aos aspectos individuais dos pequenos e jovens e das formas como são preparados os instrumentos para sua utilização.
O Teatro pode ser interpretado como parte do processo de crescimento. Muitas vezes, ele se encontra implícita ou explicitamente presente na educação formal, seja na disciplina de atividades dramáticas – teatro oferecido pela instituição educacional - ou por meio de jogos dramáticos, ainda que aplicados por outras disciplinas, nas brincadeiras, nas peças a que os jovens assistem ou representam e em tantas outras formas possíveis de serem reconhecidas no cotidiano.
Tatiana Belinky e Júlio Gouveia (in: Zilberman, 1984), Olga Reverbel (1979) e o dramaturgo alemão Bertold Brecht (1978), são enfáticos quando apontam o fato de que entre as várias funções do teatro, a mais importante é a pedagógica. Porém, a apreensão de conteúdos é uma função secundária dentro desse processo: teatro X educação. Segundo Belinky e Gouveia: a educação pelo teatro pode fornecer instrumentos intelectuais, morais e éticos, necessários à criança e ao ser humano em geral.
O teatro e seus jogos proporcionam experiências e uma espontaneidade que exercita a criatividade e, consequentemente, desenvolve potencialidades.
Os jogos teatrais, aplicados nas mais variadas dinâmicas e seus fins, exigirão um relacionamento intenso de grupo, que acaba por desviar a competição individual para um esforço em conjunto. Qualquer jogo é altamente social e com o objetivo de resolver um problema, libera-se a espontaneidade, a criatividade, despertando a intuição e ativando as emoções e observação das diversidades do universo.
Torna-se condição indispensável conscientizar o facilitador desta tarefa em relação à sua criatividade e ao seu rigor na atenção, para que não cometa julgamentos, bloqueando ou dificultando esta libertação para o desenvolvimento das aptidões emocionais.
“A expectativa de julgamento impede um relacionamento livre nos trabalhos de atuação. Além disso, o professor não pode julgar o bom ou o mau, pois que não existe uma maneira absolutamente certa ou errada para solucionar um problema: O professor, com um passado rico em experiências, pode conhecer uma centena de maneiras diferentes para solucionar um problema, e o aluno pode aparecer com a forma cento e um, que o professor até então não tinha pensado. Isto é particularmente válido nas artes.” SPOLIN, 1987, p.7
Assim, enquanto fazer teatral para o adulto é considerado cultura, para os pequenos e jovens é educativo, o que o relaciona imediatamente ao âmbito da pedagogia. Sua finalidade vai além de formar para o futuro um público adulto de boa qualidade, implica em influenciar psicologicamente, por meio dos acontecimentos do palco, contribuindo com ideias fabulosas para a construção da personalidade e do senso crítico infanto-juvenil.
Andrea Wanger
Sempre digo aos meus alunos, que a humanidade está sujeita a acabar em zumbis, tal qual os filmes de ficção.
Não faço parte da grossa fatia de indivíduos que acreditam que “ estamos no final dos tempos” e que “este mundo não tem mais jeito” e que “daqui pra frente é só esperar pelo pior”. Eu costumo olhar para o passado e enxergar a quantidade de superações que a humanidade conquistou. Inquisição, cruzadas, escravidão, holocausto, lutas por independência de colônias, apartheid, doenças e suas curas.... Em meio a tantos acontecimentos históricos, surgiram mestres, mártires, pensadores, sociólogos, cientistas e até pessoas comuns, que compuseram através de seus atos, um belo mosaico que contribuiu para a evolução do ser humano e de suas descobertas e libertações, propondo assim, uma eco sociedade melhor.
Ainda sofremos toda sorte de violência, de injustiças, de guerras, de separações religiosas, preconceitos e ausência de consciência ecológica e, apenas para constar, existem muitos movimentos que se ocupam com o social. Existem benfeitores que se dedicam a cuidar de outros. Mestres e educadores que se debruçam e se dedicam a transformação de jovens para promover um novo amanhã. Cientistas e pesquisadores que passam a vida buscando soluções para o desconhecido. Tecnologias surpreendentes, ONGs cuidando de crianças, mares e animais e assim por diante.
É preciso pensar em regenerar com a máxima urgência. É preciso sair da massa que acredita que o mais importante é o seu prazer imediato e se unir a “tribos” que tem a consciência e o propósito de assegurar a perpetuação do planeta e uma vida verdadeiramente humana. “Tribos” que se preocupam em agir para que haja condições ecológicas, “tribos” que se dedicam a iluminar mentes, despertar consciências, para que a harmonia decorrente do amor possa passear em todos os segmentos de nossa vida.
O futuro que nos aguarda é o futuro que vivermos hoje. Ou seguimos como boiada, como gado marcado pelo consumismo proposto como meio de felicidade, pelo comportamento egóico, da competitividade e aprisionados pelos instintos ou buscamos a nossa tribo, a nossa causa e nos unimos a grupos para viver uma vida de corresponsabilidade.
A redenção da Terra e seus habitantes, está nas mãos de gente que faz e que sabe que o que faz promove o cuidado de toda a família humana.
E você? O que faz para garantir um mundo mais bonito para as futuras vidas que hão de habitar este planeta?
Já encontrou sua causa, sua “tribo”? Ou você faz parte da horda? Do grupo indisciplinado que não tem consciência do que faz e nem para onde vai?
Andrea Wanger
Não tive o privilégio de estudar Filosofia quando freqüentava a escola, na Educação Básica. Era um tempo de censura, de governo militar, de educação “moral e cívica”. Regras, obediência, punições severas e muita opressão. Grades invisíveis. A educação como mediadora da ordem, reprimindo, enquadrando, determinando o certo e o errado.
Meu primeiro contato com a filosofia foi na Universidade e já, de cara, uma paixão.
Fico em estado de gratidão permanente por esse “acaso” ter invadido a minha vida. Sem contar que eu já estava de “casamento marcado” com o Teatro. Foi um renascimento! Foi minha mente se abrindo para algo extraordinário! Uma vitória de podium, com taça dourada e champagne transbordando, se assim posso, metaforicamente, ilustrar.
A paixão pelo conhecimento e por pensar de uma forma reveladora acerca de tudo, entendendo o que não entendia, aceitando o que não aceitava, desafiando meus medos, encorajando minhas próprias decisões...
Fico muito feliz em ver a Filosofia entrando pela porta da frente na vida das pessoas, ainda que lentamente. Sendo considerada essencial na formação da honra, das atitudes e da enorme contribuição social que ela causa em efeito dominó. A desmistificação de que a Filosofia era para pessoas muito inteligentes e intelectualizadas... Não! Nossa mente tem uma infinita capacidade de reflexão! O pensar analítico apenas necessita ser despertado e sim, tudo, ou pelo menos muito de tudo, pode mudar, e para melhor!
Encontrar na sabedoria o entusiasmo pela vida, pela aprendizagem. Tornar-se parceiro do conhecimento e amante de Sofia (sabedoria), enfrentando o desconhecido com pensamento aberto, com questões intrigantes, com crítica e investigação acerca do mundo. Isso torna os homens mais humanos, a vida mais aceitável, o futuro mais esperançoso.
Filosofia e Teatro? Que maravilha poder analisar, relacionar, experienciar diferentes identidades, ativar o poder criativo, o olhar para si e a empatia para o outro, humanizar os relacionamentos e as redes que pertencemos...
É delírio da alegria e do conhecimento, alterando toda composição química de nosso corpo. Promovendo um encontro com a consciência e resultando em um ser mais feliz.
Andrea Wanger
A DRAMATURGIA E O FAZER TEATRAL COMO MECANISMOS PARA A COMPREENSÃO DOS PAPÉIS QUE AS EMOÇÕES DESEMPENHAM NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA.
A humanidade está cada vez mais solicitada a descobrir uma mágica, uma cura milagrosa para os problemas entre os relacionamentos humanos. Procuramos incessantemente recursos para alcançarmos os ideais de paz, de justiça, de liberdade. Tentamos abrir as portas para um mundo onde esses ideais sejam alcançados, promovendo uma forma mais profunda e harmoniosa do desenvolvimento de uma sociedade equilibrada. E eu, mais uma vez, venho falara do Teatro, desta vez não como exercício de autoconhecimento, mas como mecanismo de promoção da construção de relações saudáveis numa sociedade cada vez mais, acelerada e mirada no individualismo.
As obras dramatúrgicas teatrais sempre tiveram como objetivo, o esforço em dar apoio às relações interpessoais a fim de melhor compreender o entorno social. A dramaturgia tem seu papel crítico, educativo, reflexivo e, na maior parte das vezes (refiro-me aqui as obras dramatúrgicas comprometidas com o fazer teatral), promover uma pausa em seu público, um instante de atenção, para que possam sair da sala de espetáculo com uma nova ideia, uma nova perspectiva acerca do tema abordado.
Pode-se falar de paz, enquanto a cena grita guerra. De amor, enquanto há lágrimas. De perdão, quando seus conflitos amontoam desavenças. De igualdade. De família, casamento, filhos, política e tudo mais que necessitamos expurgar como sociedade adoentada, que quer paz, mas não sai da sala, não se levanta da sacristia, não deixa a voz sair.
Vejo nesta arte viva diversos caminhos. Vejo a oportunidade que o autor tem de produzir através de seu olhar a mensagem para um tema relevante, da chance das produtoras resgatarem obras que se perpetuam em sua problemática por conta de uma sociedade com seus dramas não sanados, do aprofundamento de um elenco em estudar seu texto e a escolha de uma direção sobre a forma pela qual a mensagem será transmitida. Isso tudo, sendo bastante razoável e não aprofundando nas demais beneficies da montagem dramatúrgica.
Estamos em contato direto com uma realidade social dura, intolerante e apesar de seus inúmeros esforços, ainda é vencida pelo desamor, desajustes sociais, desencontros, solidão... Em “O Método”, Stanislawisky, que diz que a arte dramática é a capacidade de representar a vida do espírito Humano em público e em forma artística.
“O teatro possibilita a vivência de outras identidades por meio da representação ou da criação de personagens. Nele podemos vivenciar momentos que pertencem ao cotidiano de outras pessoas. Podemos experimentar, por meio de uma construção lógica, o desenvolvimento de uma história- real ou metafórica- que fale de cada um de nós, daqueles ligados a nós de alguma maneira, de amigos ou vizinhos, de nosso país, de inimigos... Enfim, ao nos colocarmos no papel do outro, o teatro nos dá a possibilidade de conhecer melhor a nós mesmos e aos “outros” que nos rodeiam, e de aprender a abarcar as diferenças em vez de tentar eliminá-las. Pela arte de representar o outro, podemos refletir sobre quem somos e sobre o papel que representamos hoje neste nosso mundo. ”
(FERREIRA, 2001)
Com então, não alimentar esta arte? Sendo uma gente desta cultura, inclusive como plateia. Pois o teatro é inexistente sem a plateia! Um VIVA ao Teatro! Uma das primeiras formas artísticas da expressão humana!
Que seja eterna, reveladora, transformadora e imortal.
Andrea Wanger
“Nossa juventude adora o luxo, é mal-educada, caçoa da autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Nossos filhos, hoje, são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem a seus pais e são simplesmente maus.” Sócrates 470-399 a.C.
Afinal, seriam todos: mal- educados, que não dão valor ao suor dos pais, investindo nada ou quase nada nos estudos? Incapazes de arrumar a própria cama? Não respeitam os mais velhos e se recusam a obedecer a regras? Gritam demais e são preguiçosos? Desinteressados nos acontecimentos do mundo? Caçoam dos professores e são capazes de cometer maldades? Chantageiam e fraudam para conseguir o que querem? Ou sofrem calados, estão isolados, sofrendo por algum motivo que até mesmo eles desconhecem?
E se forem mesmo assim, todos iguais, de quem é a responsabilidade?
A culpa é dos pais? Do sistema? Da política? Da Igreja? Dos professores? Dos hormônios? Do mundo moderno?
Por que são assim? Por que fomos assim? O que fazer para trazer mais calmaria nessa correnteza de transformações que os tornam reativos, isolados ou tristes?
As respostas podem ser muitas e variadas, dependendo obviamente de cada indivíduo e seu contexto. É possível investigar caso a caso, acompanhar terapeuticamente esses jovens (sobretudo se há realmente uma patologia severa identificada). Mas, talvez haja uma forma de ajudá-los a passar por toda essa estrada esburacada e cheia de perigos, chamada adolescência.
A Educação é uma ciência. E a Ciência é “um conjunto de conhecimentos empíricos, teóricos e práticos sobre a natureza”... Mas ela é impermanente. E diante de alguns desafios da educação, vai prevalecer o olhar ao indivíduo. Mas, e se esse indivíduo conseguir olhar para si mesmo? Se ele conseguir se entender a tal ponto de conceder-se sua própria transformação?
E, se juntarmos o pensamento analítico e um coração aberto? Uma mente criativa e um despertar para a realidade?
No mundo houve, há e haverá milhares de adolescentes e jovens que fizeram história. Seu filho pode ser mais um. Não que você deva projetar nele um prêmio Nobel, mas... Quem saberá?
Não precisa ter rótulo para embarcar nessa vivência (ser rebelde ou ser bonzinho, problemático ou obediente). Apenas desejar que seu filho encontre sua paz, sua autonomia e seu próprio amor para seguir em frente e abrir a sua própria trilha. DramaSofia entra em cena e sua tarefa é ajudar na travessia.